8 de abr. de 2007

Energia sob nossos pés

 Natural, renovável e abundante, a energia geotérmica ganha destaque nas ações para conter o aquecimento global. O Brasil também já prevê investimentos nessa área. Em breve, essa será uma opção para aquecer a água de casas e edifícios

Por Juliana Tourrucôo Alves

Revista Arquitetura & Construção - 04/2007 




As camadas internas da Terra, como aprendemos nas aulas de geografia, são quentes. Explorar o calor e o vapor emitidos pela água que existe ali é a premissa da energia geotérmica. Na Itália, 32 usinas já aproveitam vapor a cerca de 180º C para movimentar turbinas, gerando 5 milhões de kWh (quilowatts-hora) por ano, o suficiente para atender 2 milhões de famílias. Segundo a Enel, empresa de energia italiana, até 2010 esse índice deve aumentar 13%. Outro país que também usufrui desse potencial é a Islândia, depois vêm México, Portugal, Japão e Alemanha. O Brasil planeja entrar nessa lista. Investimentos estão na pauta da exploração do aqüífero Guarani (maior reserva subterrânea de água doce do mundo, que abrange parte dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A temperatura de sua água oscila entre 40 e 80º C - capaz de aquecer a água de edifícios ou casas e sistemas de calefação e lareiras. "A exploração dessa energia poderá ser vantajosa nas regiões Sul e Sudeste, mais frias e próximas ao aqüífero. Já o Nordeste ficará empenhado nas energias eólica e solar", aposta o pesquisador Valiya Mannathal Hamza, coordenador da área de geofísica do Observatório Nacional. 

De onde veio: depois de várias tentativas, no dia 4 de julho de 1904 o príncipe Ginori Conti acionou os motores da geotérmica da cidade de Larderello, Itália, e cinco lâmpadas se acenderam.

Para onde vai: o desafio é baixar o custo da exploração para montar usinas, cinco vezes mais alto se comparado a outras energias renováveis. Bombas de calor (serpentinas embutidas na terra, que aquecem a água) se tornarão comuns em condomínios brasileiros.


24 de jan. de 2005

Balanço Renovado








Esta foi minha primeira matéria com chamada de capa em uma edição de Domingo, no Estadão.



 CASA&
 23/01/2005

Balanço Renovado

Sinônimo de conforto e aconchego, a cadeira
de balanço tem história (e desenho) instigantes

Reportagem Juliana Tourrucôo
Produção  M. Regina Notolini
Fotos Marcos Mendes


Palha, plástico, fibra de vidro, ferro, aço ou inúmeros tipos de madeira. A extensa lista de materiais já utilizados para compor os mais inusitadosmodelos de cadeira de balanço dá conta de que essa é uma peça de decoração que tem história. Seu início é incerto. Alguns afirmam que os primeiros modelos surgiram no século 16; outros, no 17. A autoria também gera discussões. Pode ter nascido na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Tanto faz: quem teve a idéia de criá-la jamais poderia imaginar o impacto que o invento
causou através dos tempos.

Arquitetos como o casal Charles e Ray Eames e Oscar Niemeyer, incluindo os pintores Edvard Munch, em 1884, e Pablo Picasso, em 1943, e alcançando os escritores, entre eles, Carlos Drummond de Andrade, todos os artistas têm uma espécie de “rocking chair”, como é chamada em inglês, marcada na sua
obra.


Na história de cadeira de balanço, segundo o professor de Desenho Industrial da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, João Bezerra, é importantíssimo acompanhar a saga de Michel Thoner, marceneiro alemão realmente visionário, que desenvolveu a técnica da madeira vergada e a patenteou em 1841 (hoje é mundialmente difundida pela marca Thonart). Segundo o livro sobre a história da família Thoner, a experiência com a cadeira de balanço só seria iniciada em 1860. Nesse momento, Thoner já tinha o aparato industrial necessário para a fabricação do móvel em série. E, como a técnica da madeira vergada se encaixou perfeitamente ao conceito de cadeira de balanço, seu criador foi ao êxtase, inventando inúmeras
possibilidades de balanço. Do curto, ideal para lugares de pouco espaço, ao tradicional vaivem. Em um período, a cadeira chegou ao limiar de tornar cama de balanço. O requinte era tamanho que alguns modelos permitiam esticar as pernas (ou apenas os pés).

Na página ao lado, uma Thonart em madeira envergada (R$ 849, na L’Oeil). Acima, o modelo de Niemeyer ( à venda, na Casa On). Sem braços, a peça de 1930 (R$ 750,00, na Maria Jovem). Em forma de concha, a Eames (R$ 850, na Maria Jovem). A de traço moderno é de Carlos Motta (R$ 2.940)

Segundo o professor João Bezerra, mesmo com o lançamento desses modelos preferencialmente horizontais, muitos se mantinham fiéis às cadeiras de balanço que deixassem a postura ereta. “Isso porque a pessoa, além de poder balançar, aproveitava para fazer alguma outra coisa, como amamentar o filho”, explica. E é justamente essa riqueza de funções que deve nortear a escolha de quem pretende adquirir uma cadeira de balanço. “Tudo vai depender para qual propósito ela será usada”, diz. Como acontece desde sua criação, as cadeiras são moldadas por designers e arquitetos. E diversidade de modelos é o que não falta. Aos indecisos, seguem algumas dicas. “O modelo do casal Charles e Ray Eames fica muito bem em ambientes contemporâneos”, avalia o arquiteto Fábio Galeazzo, que sempre usa essa peça em seus projetos de decoração de interiores. Segundo ele, quando o cliente pede uma decoração mais despojada, mas que mantenha um quê conservador, deve optar por uma poltrona estofada. “Em uma casa de campo ou no ambiente familiar, uma Thonet cai superbem”, opina. Galeazzo lembra que o hábito de ter cadeira de balanço se mantém “porque o balançar remete a memórias infantis, como a da casa da avó ou do movimento feito pela mãe para fazer o filho dormir”.

Por várias vezes, o escritor Carlos Drummond de Andrade demonstrou seu afeto e gratidão à cadeira e ao seu balanço. “Esta minha cadeira de balanço austríaca é mineira legítima. Mineiro é o balanceio calmo que ela imprime ao corpo, às idéias, aos sonhos. Não dá para adormecer. Favorece o estado contemplativo-meditativo, isento de ambição, de amargura e de pressa.Símbolo de bem-estar doméstico, um dos móveis mais graciosos inventados pelo homem, a cadeira de balanço convém particularmente ao cronista, que não é provocador de fatos, mas é espelho deles (...).” Esse texto foi publicado na contracapa do seu livro, Cadeira de Balanço, em 1966. A homenagem a esse objeto também seria prestada na escolha do nome do programa de rádio que então mantinha na PRA-2, rádio do Ministério da Educação.

Não tão admirador quanto Drummond, Niemeyer, em parceria com a filha Anna Maria, projetou uma cadeira de balanço em 1977. “Na verdade, foi ele quem fez, apenas ajudei nos detalhes mais burocráticos”, ressalva Anna Maria. A cadeira, assim como outros nove móveis assinados pela dupla, passaram a ser
vendidos na Casa On, em uma loja exclusiva para produtos Niemeyer, no ano passado. Sua produção continua a ser em jacarandá, com detalhes em palha. A diferença é que agora elas aparecem com numeração de série e certificado – afinal, a família Niemeyer tenciona acompanhar o paradeiro de cada peça. O preço: R$ 15 mil.


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1 de out. de 2003

Quando a saúde pede um tempo








Reportagem publicada na revista Você S/A, editora Abril, de outubro de 2003 (capa abaixo).






Saiba como lidar com o afastamento do trabalho - do ponto de vista legal e pessoal

 


O tombo que o paulistano Ricardo Miadaira, de 28 anos, levou durante uma partida de futebol foi tão à-toa que todo mundo pensou que não tivesse acontecido nada. Aconteceu: na queda, ele fraturou a tíbia, o osso da canela. Um azar, principalmente se você levar em conta que Miadaira é professor de educação física. Na época, isso aconteceu há cinco meses, ele ficou com medo de ter comprometido irreversivelmente uma de suas “ferramentas de trabalho”, mas tinha também outra dor de cabeça. Precisaria viver com o auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Eu já tinha ouvido falar que o valor do benefício era baixo”, diz.

A legislação trabalhista determina que a partir do 16o dia de afastamento o profissional comece a receber pelo INSS — caso de Miadaira, que se ausentou por dois meses. O auxílio-doença só é pago quando o profissional estiver impossibilitado de exercer suas funções. Não é o caso, por exemplo, de doenças crônicas, como a diabetes, que, fora dos períodos de crise, permite que se leve uma vida normal. Segundo dados da Previdência Social, em julho deste ano mais de 1 milhão de pessoas receberam auxílio-doença. Outras 100 000 estavam de licença por causa de acidentes ocorridos durante o trabalho ou no trajeto entre sua casa e a empresa. Nos últimos cinco anos, os campeões de pedidos de auxílio-doença no país foram convalescença, com 23% dos requerimentos, e dores nas costas, com 20,4%. Já na categoria auxílio-doença acidentário 23,7% dos pedidos se relacionavam a fraturas da mão e do punho.

Problema no bolso

Em junho deste ano a Previdência Social recebeu 300 000 pedidos de auxílio-doença. Desses, mais da metade foi negada. “Para evitar fraudes, a perícia médica é muito rigorosa”, diz Benedito Brunca, diretor de benefício do INSS. A volta ao trabalho também é determinada pelo INSS. Em casos graves, o profissional é encaminhado para a aposentaria por invalidez. Apesar do pente-fino que elimina boa parte dos pedidos, são destinados mensalmente quase 600 milhões de reais para arcar com esse benefício. Parece muito, mas hoje nenhum profissional afastado recebe mais que 1 869,34 reais por mês. Ou seja, muita gente tem de se desdobrar para fazer as despesas (inclusive o gasto extra com remédios) caber no novo salário. O valor do auxílio-doença de Miadaira, por exemplo, era 35% menor do que seus vencimentos nas duas escolas em que trabalha. 

Sem contar que o professor de educação física só começou a receber o dinheiro quase dois meses depois de ter dado entrada nos documentos, ou seja, ficou sem receber nada no período em que esteve de repouso. “Não estava preparado financeiramente para esse baque”, diz ele. O prazo legal para o pagamento do auxílio-doença é de 45 dias corridos, mas, de acordo com Brunca, a maioria é concedida antes. No final das contas, é preciso lidar com a redução de salário e, provavelmente, com uma certa demora para conseguir o benefício.

Por iniciativa própria algumas empresas complementam o auxílio-doença pagando a diferença ao funcionário para que não perca renda. É o caso do laboratório farmacêutico Schering-Plough, com sede no Rio de Janeiro, que está na edição 2003 do Guia EXAME — As Melhores Empresas para Você Trabalhar. “Essa complementação de salário vale para todos os colaboradores”, diz Alberto Gerhardt, gerente de RH. Também há casos em que a organização complementa o auxílio-doença por causa de negociações sindicais. “Fechado o acordo, a empresa é obrigada a seguir o que foi determinado”, diz Myoko Kimura, sócia do escritório de advocacia Tozzini & Freire, de São Paulo.

Início complicado

O banco em que trabalhava a paulistana Teresa Vieira Gama, de 47 anos, se enquadrava nessa categoria. Era 1992 e Teresa acabara de ser contratada. Entusiasmada com o novo emprego, não seguiu as recomendações médicas para se recuperar de uma cirurgia que fizera na hipófise, glândula que fica na parte interna do cérebro. “Assim que recebi alta, o médico pediu que consultasse um otorrinolaringologista, já que a operação foi feita pela boca”, lembra Teresa. Como tudo estava aparentemente bem, ela adiou a ida ao especialista. Cerca de três meses depois que entrou no banco, Teresa contraiu consecutivamente duas meningites e foi para a mesa de operação de novo. Dessa vez, a intervenção foi mais séria, com direito a enxertos para recompor a área afetada e necessidade de repouso absoluto. Por causa do acordo sindical, Teresa não ficou em maus lençóis durante a licença. 

Muitas vezes é a empresa que fica numa situação delicada. A ausência de um funcionário desequilibra a equipe. É preciso cobrir a ausência com uma contratação ou esperar que o licenciado volte. Durante esse período, o chefe não pode nem deve esquecer um funcionário afastado. “É preciso ligar, fazer uma visita, acompanhar o caso”, diz João Batista Brillo de Carvalho, professor de comportamento, estratégia e teoria organizacional do Ibmec. Carvalho também recomenda que, se possível, quem está fora acompanhe o que está acontecendo na empresa. “A gente telefona, envia os jornais internos para a casa do colaborador, convida para as festas de fim de ano”, diz Selma Regina Furlan, assistente social da Elevadores Atlas e Schindler. “Com isso, quando ele vem aqui para consultar o médico, se sente à vontade para visitar os amigos e colegas.” 

No Grupo Pão de Açúcar, outra empresa que aparece na lista das melhores para trabalhar no país, o afastamento de algum funcionário é driblado com o que eles chamam de política do segundo homem. “Faz parte da nossa cultura preparar um sucessor temporário ou definitivo para todos os cargos”, diz Fernando Solleiro, diretor de administração de recursos humanos do grupo. 

Amargo regresso?

Superado o problema de saúde, o profissional tem de enfrentar outra situação difícil. Salvo o caso de auxílio-doença acidentário, que garante estabilidade de um ano, e o auxílio-doença de algumas categorias profissionais, que assegura o emprego por até seis meses, a demissão pode estar esperando o funcionário na volta. Por isso, o retorno ao trabalho costuma ser sempre motivo de grande preocupação. “Não faça julgamentos, principalmente se você foi substituído durante sua ausência. Primeiro, veja em que terreno está pisando e, se sentir que perdeu espaço, parta para a negociação”, diz Carvalho. Não coloque tudo a perder com atitudes impensadas. Um novo projeto foi implantado e você está meio por fora do assunto? Agende cursos e treinamentos. Informe-se sobre tudo o que aconteceu durante o período em que esteve fora. Miadaira ficou surpreso com as demonstrações de solidariedade que recebeu quando voltou a trabalhar. “Até quem eu não conhecia veio saber como eu estava e saúde”, conta. Teresa também teve a mesma sorte e se lembra de ter sido muito bem recebida (ela também ficou dois meses de “molho”). “Depois daquilo, nunca mais descuidei da minha saúde”, diz. Hoje, 11 anos depois, ela está totalmente recuperada e esbanjando disposição numa consultoria de recursos humanos, em São Paulo. 

 


Como pedir o auxílio-doença

 


Ao ser informado pelo médico que terá de se afastar do trabalho, avise seu chefe imediatamente. Geralmente o departamento de recursos humanos se encarrega da parte burocrática. Enquanto estiver recebendo o auxílio-doença, o segurado não pode ser demitido. Ao retomar suas atividades, porém, isso pode acontecer — a menos que tenha sido um caso de acidente. 

Se o INSS negar o pedido de licença, o retorno ao trabalho deve ser imediato. Caso contrário, pode haver uma demissão por justa causa. O auxílio-doença também é garantido aos trabalhadores autônomos e para quem está desempregado. 

Para obter mais informações, entre no site www.previdenciasocial. gov.br ou ligue para o Prevfone no tel. 0800 780191.




Publicação: 

Você S.A.

Data: 

01/10/2003

Edição: 

64

Página(s): 

60-62

Seção: 

Você em Equilíbrio

Resumo: 

Saiba como pedir o auxílio-doença - do ponto de vista legal e pessoal.

Assunto Principal: 

AFASTAMENTO DO TRABALHO

Chamada de Capa: 


Palavra-chave: 

TRABALHO; AUXÍLIO-DOENÇA; SAÚDE; LEGISLAÇÃO TRABALHISTA; FUNCIONÁRIO; DINHEIRO; 

Autor: 

Juliana Tourrucôo

Colaborador: 



15 de jan. de 2001

Memorial ganha uma mão de tinta

Um problema de impressão deixou o texto tortinho na página. Fiz de tudo para alinhar o material. Mas, não teve jeito. Então, fica como um charme do trabalho...






1 de mai. de 1999

Deficientes visuais aprendem a navegar na Web

Por Juliana Tourrucôo


Foi-se o tempo em que deficientes visuais encontravam obstáculos para transitar na web.  Com a criação de programas como o Virtual Vision 2.0, que utiliza uma tecnologia de síntese de voz (basicamente, ela reconhece letras e lê texto do site em voz alta para o internauta), esse grupo está livre-leve e solto para fazer o que desejar. Para ter acesso a essa inovação, muitos deles recorrem a um workshop oferecido pela Prodam (Empresa  de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo).


‘‘Quando o curso não ajuda na parte profissional, com certeza ajuda na parte emocional, já que a pessoa se sente mais útil’’, afirmou a analista de sistemas Nilde Silva, uma das professoras da Prodam. Para ela, o programa é uma oportunidade para os deficientes visuais interagirem com o mundo, já que tanto podem trabalhar com informática, quanto se comunicar com os outros. ‘‘Agora, todas as pessoas podem ler seus textos no computador, o que não ocorre quando escrevem na prancheta’’.


O virtual Vision é compatível com Windows 95 e 98, em aplicativos Office 95 e 97, e roda no Internet Explorer 3.02 e 5.0. Ele também lê mensagens do correio eletrônico e programas de OCR, e não requer outro equipamento adicional. A Micropower comercializa o aparelho em parceria com a Banco Bradesco. O deficiente abre uma conta no banco e recebe o programa. Nilde afirma que ensinar um deficiente visual a trabalhar com o computador exige ‘‘muita paciência e criatividade’’. ‘‘Primeiro tenho que descrever para eles o que é um site, um link ou uma janela, depois peço para tocarem na tela, mesmo que não vejam o conteúdo, e por último começo a explicar os aplicativos’’.


O curso é dividido em três etapas - 30 horas de Windows 95, divididas em duas semanas, mais 30 horas em MS Word e 15 horas de Internet. No entanto, os módulos não são simultâneos e o intervalo entre um e outro pode chegar a três meses. O site da Prodam também fornecerá outras informações, como links para outras instituições voltadas a deficientes visuais e físicos. A Prodam fica na Rua Leandro Dupret, 505, na Vila Clementino, São Paulo. Mais informações pelo telefone (0xx11) 5080-9426
Esse texto acima foi publicado no site da Agência Estado, em maio de 1999.
De lá para ca, a internet implantou várias outras tecnologias que favoreceram esses internautas. O jornal uruguaio, por exemplo, criou até um jornal numa versão digital aprimorada, prontinha para conversar com esses programas como documentou uma matéria da InfoExame.  Já a IBM fez questão de lançar um browser com recursos multimídia capaz  de tornar vídeos  acessíveis  para deficientes visuais. Isso só para ficar em dois bons exemplos...

12 de jun. de 1998

A primeira chamada de Capa no Estadão. Tinha 20 anos!

 Em 1998, e-mail era um artigo de luxo. Recorria, assim como vários amigos e familiares, às caixinhas dos Correios para enviar um alô para um amigo ou postar alguma encomenda. Como escutava várias reclamações sobre a perda dessas cartas, que não chegavam ao seu destino, decidi, então, investigar essa questão. 

Fiz uma série de entrevistas. Passado algumas semanas, a apuração agradou o editor. Resultado: chamadinha de capa, no Estadão, de 12/06/1998. Era a primeira vez que uma pauta genuinamente minha ganhava esse destaque. 

Para uma foquinha (apelido dado aos jornalistas inexperientes), de 20 anos, o feito teve um sabor de uma grande conquista. Confira!




 



DOS 2 MIL ENVELOPES QUE CHEGAM À EMPRESA POR DIA, 19% VOLTAM PARA O REMETENTE


JULIANA TOURRUCÔO
Especial para o Estado

A cada mês, cerca de 800 pessoas deixam de receber a notícia de um parente distante, uma lembrança enviada com carinho, um documento ou uma foto de uma pessoa querida. O depósito da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do Estado de São Paulo, onde ficam guardadas cartas e encomendas que não chegam ao destino, é prova irrefutável de que, para parte da população, postar uma carta é tarefa difícil.

O número de objetos “perdidos” só não é maior porque a empresa criou um serviço de atendimento ao cliente, equipado com programas de pesquisas de dados e renovação de cadastros bancários. Esse departamento é o “detetive” dos Correios. A correspondência com problema de preenchimento passa por uma sala de pesquisas, onde são procuradas pistas para colocá-la nas mãos dos destinatários.

Os Correios comprometem-se a guardar as encomendas durante sete meses no refugo, um depósito que abriga mais de 5 mil volumes extraviados,danificados ou perdidos nos últimos 12 meses no Estado. Todas as cartas que ficam nesse local têm de estar registradas com código de barra – comprovante fornecido pela agência ao remetente. A recuperação de cartas comuns – não cadastradas – é quase impossível em caso de perda, pois não há controle nem registros.

A estatal afirma que os carteiros tentam localizar o endereço do destinatário e de “origem” pelo menos três vezes antes de encaminhar as cartas ao refugo. Por causa disso, os envelopes acabam ficando amarelados e
cheios de carimbos.

Milagres – A salinha de pesquisa escondida no setor de triagem ganhou o apelido de “sala dos milagres”. Lá, funcionários são especializados em decifrar verdadeiros garranchos e desvendar endereços, para tentar levar as cartas aos seus destinos. A eficiência do setor tem mantido estáveis os índices de cartas perdidas, segundo inspetores. O grupo manipula a correspondência equipado com listas telefônicas, mailing  de empresas e muita intuição. Os funcionários percebem a vontade dos remetentes poucos escolarizados. “É preciso ter um certo jogo de cintura para saber para onde a pessoa queria mandar a carta”, afirma Maria Edith de Sá, que trabalha no setor há dois anos.

O chefe da “sala dos milagres”, Maurício de Azevedo, de 26 anos, esclarece que trabalha diariamente com uma média de 2 mil volumes. Os funcionários do setor conseguem reencaminhar para o destino 80% desses.  Os outros 19% são devolvidos ao remetente e 1% vai para o refugo.

Triagem – Diariamente, durante a madrugada, mais de 3 mil homens trabalham para enviar cerca de 10 milhões de objetos para todo o Brasil, por avião, ônibus e até bicicleta. Desse total, os Correios registram, em média, problemas em 1,8%. Parte do serviço é feita por computador e qualquer erro
pode atrasar a chegada da carta ao destino.





Objetos perdidos acabam sendo reaproveitados
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é a mais utilizada pela população para enviar, além de cartas, todo tipo de encomenda. Pelos depósitos da estatal, passam, além de papéis, documentos, lembranças, santinhos, fotos, roupas, remédios e aparelhos eletrônicos. Os erros no  endereçamento, no entanto, faz com que esses objetos lotem as prateleiras do chamado refugo dos Correios. Apenas de 15% a 20% dos objetos que chegam ao refugo são devolvidos ao dono.


A maioria dos objetos é classificada como “refugada”. Muitos deles acabam sendo reaproveitados pela empresa, como peças de computadores, livros, fitas de vídeo e telefones celulares. Uma parte do total é destinada à venda ou doação. O encaminhamento desses objetos depende de sua utilidade.
Um grande número de livros chega mensalmente ao refugo e a maior parte não fica na biblioteca da empresa.  A funcionária da biblioteca Silvia da Silva afirma que escolhe apenas os que estão de acordo com o perfil de seu público. O restante é doado a uma única faculdade – a Oswaldo Cruz – particular. O regulamento interno estabelece que livros e revistas devem ser encaminhados, em primeiro lugar, para a biblioteca da empresa. Depois, eles ficam disponíveis para outros interessados. Segundo a empresa, a faculdade foi a única que mandou um ofício para o diretor, credenciando-se para receber os livros refugados.


Os Correios esclarecem que os interessados em receber as doações devem enviar uma solicitação por escrito à diretoria da empresa. (J.T. )Depois de sete meses, peças de computador, celulares e até livros são vendidos ou doados.

Erro é o maior motivo de extravio

Os dois principais motivos de extravio de correspondência são a falta ou erro de informação e envelopes preenchidos com letras ilegíveis. Os erros são responsáveis por 90% das perdas. O Código de Endereçamento Postal (CEP) e os endereços acabam sendo ignorados, trocados e até resumidos, impossibilitando a entrega. “É necessário conscientizar a população da importância do CEP correto, pois os
Correios gastam muito dinheiro para fazer chegar ao destino cartas com falta de informação”, afirma o diretor regional dos Correios, Edson Comin. Às vezes, um erro simples, como trocar a ordem dos números, pode retardar a chegada ao destinatário em até uma semana, pois a correspondência será
encaminhada para o depósito da empresa.

Triturador – Depois de sete meses, as remessas são abertas, rasgadas e colocadas num saco por dois fiscais do setor de Inspetoria. Eles lacram as sacolas e enviam a uma empresa onde serão trituradas e usadas para fazer papel reciclado. Antes disso, ninguém poderá ler ou abrir os envelopes. Violar correspondência é crime, com pena de detenção ou de pagamento de multa (artigo 151 do Código Penal). Quem teve uma correspondência extraviada poderá reclamar pelo número 159. O interessado deverá fornecer, como referência, o número do código de barra que recebeu no momento em que pagou o frete e fazer um pedido de rastreamento.

Essa é a única forma de salvar a correspondência. O mesmo serviço telefônico fornece o número correto do CEP, uma consulta considerada muito útil por funcionários da empresa antes da postagem da carta. Segundo Comin, as cartas com todas as informações corretas chegam no prazo previsto e com total
segurança. (J.T.)

A chamadinha na capa do Estadão está logo abaixo do beijo do jogador. Ali, à esquerda.





10 de ago. de 1997

A primeirinha!


Depois de várias notinhas "anônimas", no dia 10/08/1997 assinei meu primeiro texto no Estadão. Foi emocionante e lembro-me de cada detalhe daquele dia e daquela época: tinha 19 anos, cursava o terceiro ano de jornalismo e fazia estágio no caderno de Política. Trabalhava com um pessoal super gente boa (a lista é longa, depois dou os nomes). 


Eles sabiam que era fissurada para colocar o pé na rua e encarrar a rotina da reportagem. Por isso, apoiavam minha campanha: "Editor, dê uma pauta para a ju!!" Foram quatro meses de insistência com a chefia até receber o chamado: "Juliana, tarefa especial para você: plantão no Albert Einstein (ponto)".
O Sérgio Motta (1940-1998), ministro das Comunicações naquela época, estava internado por lá, recuperando-se de uma cirurgia delicada. Era ficar de olho no quadro clínico do político e narrar qualquer novidade, como visitas ilustres. Foram 12 horas de vigília. (Depois, confira o texto curto e simples  logo abaixo.)


Passada essa experiência (que um dia conto mais detalhes), vieram muuuuuitas outras, como a primeira chamada de capa numa sexta-feira e numa cobiçada edição de domingo.









Motta tem boa recuperação de cirurgia

Ele foi submetido na sexta-feira a uma operação para a retirada do apêndice
Ministro também fez implante dentário

JULIANA TOURRUCO
Especial para o Estado

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, recupera-se sem problemas das cirurgias para retirada do apêndice e implante de dentes a que foi submetido na sexta-feira. De acordo com boletim médico divulgado às 12h15 de ontem, o ministro está "com recuperação adequada e sem intecorrência".O boletim é assinado pelos médicos Vitor Strassmann (cirurgião-geral), Bernardino Tranchesi Jr. (cardiologista), Laercio W. Vasconcelos (cirurgião dentista) e José Henrique Germann Ferreira (superintendente do hospital). Segundo a assessora do hospital, Elenice Cruz, Motta passa bem e está acompanhado da mulher, Wilma. Durante a tarde, o ministro recebeu a visita do senador José Serra (PSDB-SP) e do deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP). Pela manhã, Motta não recebeu ninguém.

O ministro foi submetido a uma cirurgia conhecida como apendicectomia (operação para a retirada do apêndice). Trata- se de um procedimento considerado trivial pelos gastroenterologistas. Além do apêndice, o ministro perdeu 3 centímetros do ceco, que é a parte inicial do intestino grosso. Sergio Motta deverá ter alta hospitalar até terça-feira.


Dia 10/08/1997 (há dez anos), na página A4, edição BRASIL, jornal O Estado de S. Paulo.
Ps-Sim, comeram um "o" do meu sobrenome.