O arquiteto Daniel Libeskind não gosta de ser chamado de desconstrutivista, mas
reforçou esse rótulo ao reformular a fachada do Museu Royal Ontario,
em Toronto. O projeto
mexeu com o jeito discreto da cidade canadense e provocou polêmica. A repórter
Juliana Tourrucôo
esteve lá no dia da inauguração da obra e conta o porquê.
Ao
desembarcar no aeroporto internacional Toronto Lester B. Pearson na manhã de 2
de junho deste ano, procurei o quiosque de informações para perguntar o valor
de uma corrida de táxi até o centro. Com a resposta, ganhei uma dica da
funcionária: “Vamos reinaugurar hoje este museu”, disse ela, ao me entregar um
guia de atrações locais com a imagem de uma interessante estrutura metálica
impressa na capa. Bendito acaso! Saber da estréia de um projeto arquitetônico
na cidade onde passaria os próximos 15 dias foi emocionante. Segui para o hotel
e, depois de visitar pontos turísticos como a CN Tower – a torre mais alta do
mundo –, constato: o clima é de festa por causa do museu. Uma festa discreta e
um tanto polêmica (como descobri mais tarde). Resolvi ir até lá e conferir. Tomei
o metrô, desci na estação Yonge Bloor, dobrei à direita e lá estavam eles, os
impactantes cubos prateados desenhados por Daniel Libeskind. Como em toda
inauguração, nesta havia muitos convidados, discursos, luzes e aplausos. E, com
a entrada grátis, o Royal Ontario Museum, ou apenas ROM, estava lotado. Por
isso, me limitei somente à fachada naquela noite, e deixei para conhecê-lo
melhor nas duas visitas que fiz nas semanas seguintes.
Foi
em meados de 2000 que as propostas de uma nova fachada para o ROM começaram.
Com o museu prestes a completar 90 anos, um concurso de projetos anunciava como
vencedor o arquiteto polonês, nacionalizado americano, Daniel Libeskind. De
traço contemporâneo, o profissional já mostrou seu estilo marcante em três
museus: o Judaico, em Berlim, o Felix, em Nussbaum (ambos na Alemanha), e o
Imperial War, em Manchester, na Inglaterra. E os planos para o ROM, com total
respaldo da direção da instituição, não eram diferentes. Dos primeiros esboços
rabiscados em guardanapos de papel – “tive um daqueles momentos inspiradores em
um restaurante”, disse –, ele partiu para a tecnologia. Utilizou programas
digitais que permitem cálculos estruturais complexos, moldou um esqueleto de
aço corten e o cobriu com chapas de alumínio e vidro temperado. Para isso,
colocou abaixo a fachada retilínea de concreto existente desde 1984, desenhada
pelo arquiteto Gene Kinoshita. E daí surgiu a polêmica: alguns locais viram na
atitude o desprezo do museu pela própria história e pelo projeto anterior.
“Essa
é a cultura do hipercapitalismo, muito drama, muita energia (...), sendo ao
mesmo tempo opressiva e claustrofóbica. Fisicamente, está tudo errado”,
declarou o crítico Richard Rhodes. Editor da Canadian Art, uma das revistas
mais conceituadas da área, ele se disse atônito numa entrevista a outra
publicação local, a Azure. Para William Thorsell, diretor do ROM, o projeto é
ultra-ousado e vai firmar o nome do museu no turismo arquitetônico. “Agora
também temos espaços mais dinâmicos para a exposição das peças”, justificou,
referindo-se às novas 12 alas criadas por Libeskind, que abrigarão um acervo
variado, que vai de arte a história natural. Certa ou não, a polêmica das
fachadas esculturais promete gerar mais discussão. Em 2008, é a vez da Galeria
de Arte de Ontario, também em reforma, reabrir com uma nova entrada (a antiga
promete ser mantida) e novos anexos. Tudo conduzido pelo arquiteto conterrâneo
Frank O. Gehry. De tão entrosado com a idéia, Gehry criou um movimento:
Transformation Ago – New Art, New Building, New Ideas, New Future
(www.ago.net/transformation). Parece que os próximos tempos prometem mudanças.
www.rom.on.ca
Projeto - Daniel Libeskind
Construção - Vanbots Construction Corp
Engenharia
mecânica - Arup (London), TMP
Engenharia
elétrica - Arup (London), MBII
Acústica - Valcoustics
O