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12 de jun. de 1998

A primeira chamada de Capa no Estadão. Tinha 20 anos!

 Em 1998, e-mail era um artigo de luxo. Recorria, assim como vários amigos e familiares, às caixinhas dos Correios para enviar um alô para um amigo ou postar alguma encomenda. Como escutava várias reclamações sobre a perda dessas cartas, que não chegavam ao seu destino, decidi, então, investigar essa questão. 

Fiz uma série de entrevistas. Passado algumas semanas, a apuração agradou o editor. Resultado: chamadinha de capa, no Estadão, de 12/06/1998. Era a primeira vez que uma pauta genuinamente minha ganhava esse destaque. 

Para uma foquinha (apelido dado aos jornalistas inexperientes), de 20 anos, o feito teve um sabor de uma grande conquista. Confira!




 



DOS 2 MIL ENVELOPES QUE CHEGAM À EMPRESA POR DIA, 19% VOLTAM PARA O REMETENTE


JULIANA TOURRUCÔO
Especial para o Estado

A cada mês, cerca de 800 pessoas deixam de receber a notícia de um parente distante, uma lembrança enviada com carinho, um documento ou uma foto de uma pessoa querida. O depósito da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do Estado de São Paulo, onde ficam guardadas cartas e encomendas que não chegam ao destino, é prova irrefutável de que, para parte da população, postar uma carta é tarefa difícil.

O número de objetos “perdidos” só não é maior porque a empresa criou um serviço de atendimento ao cliente, equipado com programas de pesquisas de dados e renovação de cadastros bancários. Esse departamento é o “detetive” dos Correios. A correspondência com problema de preenchimento passa por uma sala de pesquisas, onde são procuradas pistas para colocá-la nas mãos dos destinatários.

Os Correios comprometem-se a guardar as encomendas durante sete meses no refugo, um depósito que abriga mais de 5 mil volumes extraviados,danificados ou perdidos nos últimos 12 meses no Estado. Todas as cartas que ficam nesse local têm de estar registradas com código de barra – comprovante fornecido pela agência ao remetente. A recuperação de cartas comuns – não cadastradas – é quase impossível em caso de perda, pois não há controle nem registros.

A estatal afirma que os carteiros tentam localizar o endereço do destinatário e de “origem” pelo menos três vezes antes de encaminhar as cartas ao refugo. Por causa disso, os envelopes acabam ficando amarelados e
cheios de carimbos.

Milagres – A salinha de pesquisa escondida no setor de triagem ganhou o apelido de “sala dos milagres”. Lá, funcionários são especializados em decifrar verdadeiros garranchos e desvendar endereços, para tentar levar as cartas aos seus destinos. A eficiência do setor tem mantido estáveis os índices de cartas perdidas, segundo inspetores. O grupo manipula a correspondência equipado com listas telefônicas, mailing  de empresas e muita intuição. Os funcionários percebem a vontade dos remetentes poucos escolarizados. “É preciso ter um certo jogo de cintura para saber para onde a pessoa queria mandar a carta”, afirma Maria Edith de Sá, que trabalha no setor há dois anos.

O chefe da “sala dos milagres”, Maurício de Azevedo, de 26 anos, esclarece que trabalha diariamente com uma média de 2 mil volumes. Os funcionários do setor conseguem reencaminhar para o destino 80% desses.  Os outros 19% são devolvidos ao remetente e 1% vai para o refugo.

Triagem – Diariamente, durante a madrugada, mais de 3 mil homens trabalham para enviar cerca de 10 milhões de objetos para todo o Brasil, por avião, ônibus e até bicicleta. Desse total, os Correios registram, em média, problemas em 1,8%. Parte do serviço é feita por computador e qualquer erro
pode atrasar a chegada da carta ao destino.





Objetos perdidos acabam sendo reaproveitados
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é a mais utilizada pela população para enviar, além de cartas, todo tipo de encomenda. Pelos depósitos da estatal, passam, além de papéis, documentos, lembranças, santinhos, fotos, roupas, remédios e aparelhos eletrônicos. Os erros no  endereçamento, no entanto, faz com que esses objetos lotem as prateleiras do chamado refugo dos Correios. Apenas de 15% a 20% dos objetos que chegam ao refugo são devolvidos ao dono.


A maioria dos objetos é classificada como “refugada”. Muitos deles acabam sendo reaproveitados pela empresa, como peças de computadores, livros, fitas de vídeo e telefones celulares. Uma parte do total é destinada à venda ou doação. O encaminhamento desses objetos depende de sua utilidade.
Um grande número de livros chega mensalmente ao refugo e a maior parte não fica na biblioteca da empresa.  A funcionária da biblioteca Silvia da Silva afirma que escolhe apenas os que estão de acordo com o perfil de seu público. O restante é doado a uma única faculdade – a Oswaldo Cruz – particular. O regulamento interno estabelece que livros e revistas devem ser encaminhados, em primeiro lugar, para a biblioteca da empresa. Depois, eles ficam disponíveis para outros interessados. Segundo a empresa, a faculdade foi a única que mandou um ofício para o diretor, credenciando-se para receber os livros refugados.


Os Correios esclarecem que os interessados em receber as doações devem enviar uma solicitação por escrito à diretoria da empresa. (J.T. )Depois de sete meses, peças de computador, celulares e até livros são vendidos ou doados.

Erro é o maior motivo de extravio

Os dois principais motivos de extravio de correspondência são a falta ou erro de informação e envelopes preenchidos com letras ilegíveis. Os erros são responsáveis por 90% das perdas. O Código de Endereçamento Postal (CEP) e os endereços acabam sendo ignorados, trocados e até resumidos, impossibilitando a entrega. “É necessário conscientizar a população da importância do CEP correto, pois os
Correios gastam muito dinheiro para fazer chegar ao destino cartas com falta de informação”, afirma o diretor regional dos Correios, Edson Comin. Às vezes, um erro simples, como trocar a ordem dos números, pode retardar a chegada ao destinatário em até uma semana, pois a correspondência será
encaminhada para o depósito da empresa.

Triturador – Depois de sete meses, as remessas são abertas, rasgadas e colocadas num saco por dois fiscais do setor de Inspetoria. Eles lacram as sacolas e enviam a uma empresa onde serão trituradas e usadas para fazer papel reciclado. Antes disso, ninguém poderá ler ou abrir os envelopes. Violar correspondência é crime, com pena de detenção ou de pagamento de multa (artigo 151 do Código Penal). Quem teve uma correspondência extraviada poderá reclamar pelo número 159. O interessado deverá fornecer, como referência, o número do código de barra que recebeu no momento em que pagou o frete e fazer um pedido de rastreamento.

Essa é a única forma de salvar a correspondência. O mesmo serviço telefônico fornece o número correto do CEP, uma consulta considerada muito útil por funcionários da empresa antes da postagem da carta. Segundo Comin, as cartas com todas as informações corretas chegam no prazo previsto e com total
segurança. (J.T.)

A chamadinha na capa do Estadão está logo abaixo do beijo do jogador. Ali, à esquerda.