1 de ago. de 2009

Jorge Reinventado












Foto Capa: Cássio Vasconcellos.


Leia também o perfil do designer Jorge Zalszupin, no livro Design Brasil.



 
Jorge reinventado
 
Ele escapou de uma guerra, descobriu o Brasil e aqui criou um estúdio de design que marcou época no final dos anos 50, agora com móveis reeditados. Reinventar-se é o que melhor faz Jorge Zalszupin
 

Quieto em sua casa, ele ouve música clássica. Há anos dedica-se a explorar as escalas das obras de Richard Wagner, Sebastian Bach, Antonio Vivaldi. Acordes o inspiram a desenhar um quadro, uma cadeira, uma mesa. Inéditos, tem mais de 20 croquis em papel vegetal. Finas e diáfanas, essas folhas recebem o traço firme e sensual de Jorge Zalszupin, o mestre que, imerso nesse universo de óperas e sonatas, há tempos deixou de lado as notícias sobre a arquitetura. Não ouviu falar de Peter Zumthor, vencedor deste ano do Pritzker, o maior prêmio da arquitetura, de Zaha Hadid ou de Daniel Libeskind. No entanto, engatou a conversa ao saber que o último da lista é polonês como ele, autor do Museu Judaico de Berlim e que também teve sua família marcada pela Segunda Guerra.

A história surge dos escombros: "Tinha 16 anos e chamava-me Jerzy quando fugi com os meus familiares para a Romênia, debaixo de bombardeios", conta. Os pais haviam se divorciado. A mãe decidiu retornar a Varsóvia para rever um namorado - acabou presa pelos nazistas e levada a um campo de concentração, onde morreu. Mesmo na Romênia, a guerra o perseguia. Foi preciso driblar várias batidas policiais para se formar em arquitetura. "Lá aprendi o valor de uma estética limpa, objetiva e bem dimensionada." Sabendo da importância de um arquiteto na reconstrução das cidades destruídas pelas bombas, candidatou-se a um projeto de reurbanização no pós-guerra. Foi escalado para servir no norte da França, onde desenhou suas primeiras casas. O salário, mesmo modesto, permitiu que comprasse móveis, uma moto, livros e revistas - e foi uma dessas edições que mudou toda sua vida. No fim da década de 40, caiu em suas mãos a reportagem Architecture au Brésil, da elegante revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui. "Foi uma hipnose", diz Zalszupin.

Em fevereiro de 1949, depois de dois anos no projeto de reurbanização, ele desembarcou no Rio de Janeiro, em pleno Carnaval. Na bagagem, a moto, a mobília (o guarda-roupa com fundo falso trazia um bom lote de frascos de perfume francês), 500 dólares, que um amigo acreditava que se transformariam em mil com a venda dos perfumes, e o diploma romeno de arquitetura. De moto, cruzando as ruas do Rio, ia vislumbrando aqui e ali as obras publicadas na revista, os vidros de perfume trepidando em suas costas, prestes a se transformar em cacos. Nenhum se quebrou. E nenhum foi vendido. Zalszupin encontrou melhor fim para eles: presenteou as cariocas com as mais refinadas fragrâncias francesas, especialmente aquelas que se dispunham a lhe ensinar os primeiros segredos da língua portuguesa. Se o comércio não era a sua praia, a arquitetura prometia outro desfecho.

Uma carta postada por Zalszupin na chegada ao Rio, em que pedia trabalho no escritório de arquitetura do conterrâneo Luciano Korngold, em São Paulo, finalmente obteve resposta. E Zalszupin enveredou por terras paulistanas. Ao lado do novo chefe, aprimorou o estilo - em pouco tempo se encarregava de projetos completos, mas sem poder assiná-los, já que não era brasileiro. Enquanto tentava resolver esse entrave, ele não deixava de investir em revistas estrangeiras. As visitas às livrarias francesas o fizeram descobrir outra paixão: Annete. A bela moça que o atendia é sua mulher há mais de 50 anos. E foi a primeira filha do casal quem trouxe novas perspectivas. "Com o registro dela, recebi a cidadania brasileira", lembra. Estava aberto o caminho para que firmasse seu nome como arquiteto, a partir de uma nova aposta. A cada projeto, toda a mobília da casa também era desenhada. Imerso nesse intenso exercício, o arquiteto foi cedendo lugar a outro personagem que nascia: Jorge Zalszupin, designer e artesão.

O L’Atelier foi criado nesse momento, em 1959. "O nome", conta, "trazia a proposta de um lugar para criações conjuntas." Marceneiros supergabaritados trabalhavam de forma artesanal na produção de poltronas, como a Dinamarquesa, além de mesas, bufês e camas. Mesmo em um mercado em que já brilhavam outros empreendimentos pioneiros, como a Unilabor, a Forminform e a Laugenbach & Terneiro, Zalszupin abriu duas lojas da marca em São Paulo. O estúdio viveu seus momentos de maior glória projetando peças para os saguões de espera do Aeroporto Internacional da capital e para as assembleias legislativas paulista e gaúcha. Arriscou até um showroom em Nova York. A madeira brasileira, no entanto, estranhou o clima e se redesenhou conforme pedia a natureza, retorcida. Diante das peças deformadas, Zalszupin se debruçou sobre o caso, visitou marcenarias em todo o mundo, até as que fabricavam violinos, onde descobriu várias técnicas valiosas de moldagem e secagem. O destino, porém, não economiza suas ironias. Há poucos meses, Zalszupin soube por meio de amigos que colecionadores americanos vêm comprando seus móveis produzidos naquela época. "Por certo, a madeira já está madura", pondera.

Nos anos 70, nova guinada. A marca L’Atelier passa para as mãos do Grupo Forsa, que abarcava várias empresas. Zalszupin assumiu o núcleo de criação e pesquisa, aprendeu a trabalhar com plástico e metais. Ao lado dos amigos e designers Osvaldo Mellone, Paulo Jorge Pedreira e Lilian Weimberg reproduziu, sob contratos de licença, peças de outros designers, como o britânico Robin Day, numa investida mais popular. Aliás, a única. Ele não admite vender um móvel explorando a mão de obra de seus marceneiros ou usando materiais de segunda categoria. "Sei que o design tem que ser útil, bonito, fácil de fabricar e vendável. Mas equilibrar esses pontos exige bom senso." Quando percebeu que a defesa desse princípio seria batalha perdida, largou a produção dos móveis e se voltou para a prancheta, propondo novos jeitos de morar. A grande novidade era o quarto separado para o casal, ideia ousada demais na época.

Foi em 2004 que a empresária Etel Carmona o convenceu a reeditar a poltrona Dinamarquesa, entre outros móveis, com sucupira e imbuia de reflorestamento. "Eu fiquei em dúvida quanto à qualidade dessas madeiras", lembra. Os ensaios de prototipagem deram fim às suas suspeitas e os móveis foram encaminhados para a produção. O lançamento, em 2005, um sucesso total, foi a ocasião ideal para rever amigos - como Isay Weinfeld, segundo ele, "o melhor arquiteto do mundo". Weinfeld se emociona com a reverência e avalia o legado de Zalszupin: "A qualidade de seu desenho faz com que seus objetos e mobiliário sejam modernos por muitos anos". O elogio não é retórico. O L’Atelier, afinal, fez história. E Zalszupin guarda todos os folhetos da época numa caixa. Dez minutos depois de remexer as lembranças, emociona-se. Fecha tudo e encerra a entrevista.

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6 de jun. de 2009

Uma passadinha no Canadá

A viagem ao Canadá rendeu notinha, reportagem, especial para o site e, é claro, ótimas lembranças daquele belo país.


#Um breve alô contando as novidades do primeiro dia

#Reportagem sobre a reinaguração do museu ROM 






#Especial web: A Casa do Cirque du Solei





12 de jan. de 2009

Listas: palavras com dois OOs



1. Tourrucoo - meu sobrenome
2. Bamboo - nome do bambu em inglês.
3. Broos - sobrenome do arquiteto alemão Hans. Ele Veio para o Brasil em 1954 e se estabeleceu em algumas cidades, como São Paulo
4. ’O’o é o nome havaiano das aves do género Moho, pertencente à família Meliphagidae. O grupo inclui quatro espécies, todas elas extintas, que habitavam as florestas do arquipélago do Hawaii.
5. Koo Koo Roo - restaurante no Texas, EUA. www.kookooroo.com
6. Kangoo - carro da Renault
7. Rem Koolhaas - arquiteto holândes.



8. http://www.iranhome.coo.ir/ - um site iraniano.
9. Droog Design - grupo holandês com peças lindas
10. Cocoon - filme, um sucesso em 1985. Nome dado também há um espaço da Casa Cor 2009.

30 de set. de 2007

O Novo em Debate

O arquiteto Daniel Libeskind não gosta de ser chamado de desconstrutivista, mas reforçou esse rótulo ao reformular a fachada do Museu Royal Ontario, em Toronto. O projeto mexeu com o jeito discreto da cidade canadense e provocou polêmica. A repórter Juliana Tourrucôo esteve lá no dia da inauguração da obra e conta o porquê.


Ao desembarcar no aeroporto internacional Toronto Lester B. Pearson na manhã de 2 de junho deste ano, procurei o quiosque de informações para perguntar o valor de uma corrida de táxi até o centro. Com a resposta, ganhei uma dica da funcionária: “Vamos reinaugurar hoje este museu”, disse ela, ao me entregar um guia de atrações locais com a imagem de uma interessante estrutura metálica impressa na capa. Bendito acaso! Saber da estréia de um projeto arquitetônico na cidade onde passaria os próximos 15 dias foi emocionante. Segui para o hotel e, depois de visitar pontos turísticos como a CN Tower – a torre mais alta do mundo –, constato: o clima é de festa por causa do museu. Uma festa discreta e um tanto polêmica (como descobri mais tarde). Resolvi ir até lá e conferir. Tomei o metrô, desci na estação Yonge Bloor, dobrei à direita e lá estavam eles, os impactantes cubos prateados desenhados por Daniel Libeskind. Como em toda inauguração, nesta havia muitos convidados, discursos, luzes e aplausos. E, com a entrada grátis, o Royal Ontario Museum, ou apenas ROM, estava lotado. Por isso, me limitei somente à fachada naquela noite, e deixei para conhecê-lo melhor nas duas visitas que fiz nas semanas seguintes.




Foi em meados de 2000 que as propostas de uma nova fachada para o ROM começaram. Com o museu prestes a completar 90 anos, um concurso de projetos anunciava como vencedor o arquiteto polonês, nacionalizado americano, Daniel Libeskind. De traço contemporâneo, o profissional já mostrou seu estilo marcante em três museus: o Judaico, em Berlim, o Felix, em Nussbaum (ambos na Alemanha), e o Imperial War, em Manchester, na Inglaterra. E os planos para o ROM, com total respaldo da direção da instituição, não eram diferentes. Dos primeiros esboços rabiscados em guardanapos de papel – “tive um daqueles momentos inspiradores em um restaurante”, disse –, ele partiu para a tecnologia. Utilizou programas digitais que permitem cálculos estruturais complexos, moldou um esqueleto de aço corten e o cobriu com chapas de alumínio e vidro temperado. Para isso, colocou abaixo a fachada retilínea de concreto existente desde 1984, desenhada pelo arquiteto Gene Kinoshita. E daí surgiu a polêmica: alguns locais viram na atitude o desprezo do museu pela própria história e pelo projeto anterior.




“Essa é a cultura do hipercapitalismo, muito drama, muita energia (...), sendo ao mesmo tempo opressiva e claustrofóbica. Fisicamente, está tudo errado”, declarou o crítico Richard Rhodes. Editor da Canadian Art, uma das revistas mais conceituadas da área, ele se disse atônito numa entrevista a outra publicação local, a Azure. Para William Thorsell, diretor do ROM, o projeto é ultra-ousado e vai firmar o nome do museu no turismo arquitetônico. “Agora também temos espaços mais dinâmicos para a exposição das peças”, justificou, referindo-se às novas 12 alas criadas por Libeskind, que abrigarão um acervo variado, que vai de arte a história natural. Certa ou não, a polêmica das fachadas esculturais promete gerar mais discussão. Em 2008, é a vez da Galeria de Arte de Ontario, também em reforma, reabrir com uma nova entrada (a antiga promete ser mantida) e novos anexos. Tudo conduzido pelo arquiteto conterrâneo Frank O. Gehry. De tão entrosado com a idéia, Gehry criou um movimento: Transformation Ago – New Art, New Building, New Ideas, New Future (www.ago.net/transformation). Parece que os próximos tempos prometem mudanças.
www.rom.on.ca
Projeto - Daniel Libeskind
Construção - Vanbots Construction Corp
Engenharia mecânica - Arup (London), TMP
Engenharia elétrica - Arup (London), MBII
Acústica - Valcoustics 




O

Procuram-se sofás, bancos e camas em capas de disco!




+ Detalhes

8 de abr. de 2007

Energia sob nossos pés

 Natural, renovável e abundante, a energia geotérmica ganha destaque nas ações para conter o aquecimento global. O Brasil também já prevê investimentos nessa área. Em breve, essa será uma opção para aquecer a água de casas e edifícios

Por Juliana Tourrucôo Alves

Revista Arquitetura & Construção - 04/2007 




As camadas internas da Terra, como aprendemos nas aulas de geografia, são quentes. Explorar o calor e o vapor emitidos pela água que existe ali é a premissa da energia geotérmica. Na Itália, 32 usinas já aproveitam vapor a cerca de 180º C para movimentar turbinas, gerando 5 milhões de kWh (quilowatts-hora) por ano, o suficiente para atender 2 milhões de famílias. Segundo a Enel, empresa de energia italiana, até 2010 esse índice deve aumentar 13%. Outro país que também usufrui desse potencial é a Islândia, depois vêm México, Portugal, Japão e Alemanha. O Brasil planeja entrar nessa lista. Investimentos estão na pauta da exploração do aqüífero Guarani (maior reserva subterrânea de água doce do mundo, que abrange parte dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A temperatura de sua água oscila entre 40 e 80º C - capaz de aquecer a água de edifícios ou casas e sistemas de calefação e lareiras. "A exploração dessa energia poderá ser vantajosa nas regiões Sul e Sudeste, mais frias e próximas ao aqüífero. Já o Nordeste ficará empenhado nas energias eólica e solar", aposta o pesquisador Valiya Mannathal Hamza, coordenador da área de geofísica do Observatório Nacional. 

De onde veio: depois de várias tentativas, no dia 4 de julho de 1904 o príncipe Ginori Conti acionou os motores da geotérmica da cidade de Larderello, Itália, e cinco lâmpadas se acenderam.

Para onde vai: o desafio é baixar o custo da exploração para montar usinas, cinco vezes mais alto se comparado a outras energias renováveis. Bombas de calor (serpentinas embutidas na terra, que aquecem a água) se tornarão comuns em condomínios brasileiros.